Tuesday, April 24, 2012

    Da urgência para a legalidade das cotas raciais


    Por: Melquisedec Chaves do Nascimento


    Na semana em que o STF julga a constitucionalidade das cotas raciais, cabem algumas considerações sobre um tema que ainda causa muita polêmica. Antes de discorrer sobre o assunto, vamos fazer uma distinção entre dois termos similares. As cotas raciais estão estritamente ligadas à promoção de ações afirmativas com o objetivo de diminuir as desigualdades sociais entre diferentes grupos étnicos. As cotas sociais, termo similar e mais abrangente, prevêem pontuações em concursos, vagas na universidade, etc. voltadas para alunos egressos da escola pública, brancos, índios, negros, cadeirantes, etc. Ou seja, enquanto uma atende a um grupo mais específico, a segunda busca atender diferentes públicos, independentemente da cor/origem.

    Quando se parte para um debate sobre a pertinência destas políticas de ação positiva, vemos posicionamentos na defesa de que, primeiramente, deveríamos ter uma escola de qualidade para todos, o que extinguiria a necessidade das cotas. No entanto, basta olharmos para a escola pública e perceber que estamos muito longe de ver uma educação em que a qualidade do ensino possibilite o ingresso da maioria dos alunos na universidade pública. Por outro lado, há os que defendem as cotas igualitariamente para todos os brasileiros pobres, independentemente da cor, isto é, que as cotas devem ser direito de todos, sem a delimitação de etnia ou grupo social a que pertence o interessado.

    No entanto, é muito fácil notar que, do ponto de vista da inclusão social, há uma disparidade enorme entre as condições da comunidade afrodescendente e a realidade da população branca. Sabemos que tanto o branco como o negro sofre discriminação. Não se pode negar a existência de atitudes discriminatórias contra o branco pobre, mas há também a discriminação relacionada ao pertencimento étnico. Logo, se o cidadão é negro, e pobre, ele vai ser duas vezes discriminado, uma pela sua cor, e outra pela sua condição socioeconômica.

    Diante deste fenômeno, podemos problematizar o foi colocado até aqui, fazendo uma reflexão a partir de algumas indagações: com quantos médicos negros você já foi consultado? Quantos alunos afrodescendentes estão frequentando os colégios tradicionais de São Paulo, como o Rio Branco, Pueri Domus, etc? Quantos negros estão atuando nas telenovelas que não fazem um papel em que desempenham uma função subalterna? Até que ponto o programa Esquenta, da Regina Casé, realmente promove a autoestima da população negra? Ou ainda vende uma imagem da democracia racial no Brasil? Quais os motivos que levam o nosso país a ter um contingente da população negra tão grande no sistema penitenciário? Quantos alunos negros se veem representados positivamente nos livros didáticos? Por quais motivos a taxa de mortalidade infantil da população negra é maior que a branca?

    Se considerarmos que vivemos no país com maior população negra, depois da Nigéria e que, segundo dados do IBGE, mais de 50 % da população se declaram preta ou parda, as questões acima podem evidenciar que algo está errado e nos permitem fazer alguns contrapontos com outro país que adotou as cotas raciais.

    Os EUA, palco de inúmeras contestações contra o sistema segregacionista e que tiveram como destaques ativistas em favor dos direitos civis da população afro-americana, como Martin Luther King, Malcon X e os membros do Partido Panteras Negras, em 1860, já adotavam o sistema de cotas em algumas universidades e, curiosamente, em 1885, já possuíam  uma universidade para atender a população negra, a Atlanta University.

    Na década de 60 as pautas reivindicatórias contra o Apartheid, previam uma atuação mais contundente do negro contra o racismo praticado naquele país, que defendia, inclusive uma população afro-americana armada, não para sair atirando a esmo, mas para se defender do poder de fogo das organizações como a Ku Klux Klan, dos policiais racistas e de outros grupos separatistas.

    No Brasil, embora não tivéssemos uma atuação do movimento negro de modo radical como nos EUA, foram as reivindicações feitas pelos movimentos sociais que resultaram em alguns indícios de melhora na política assistencial da população negra, sobretudo com a atuação do finado professor, poeta, ensaísta, deputado, e senador, Abdias do Nascimento, na militância do movimento negro.

    Como fruto dessas mobilizações, podemos mencionar alguns avanços como objeto de políticas públicas relacionadas as temáticas étnico-raciais nos últimos anos. Por exemplo, a criação da lei 10.639/03, que altera a Lei de Diretrizes e Bases e versa sobre a obrigatoriedade do ensino de história da África e dos africanos e da luta dos negros no Brasil, em todo o currículo escolar. Também em 2003, a criação da SEPPIR, Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, que tem como objetivo a articulação de políticas e diretrizes para a promoção da igualdade racial, além do Decreto Nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, que prevê o reconhecimento, a delimitação, a demarcação e a titulação da propriedade definitiva das terras ocupadas pelas populações remanescentes de quilombos. A criação destas leis e de um órgão para discutir a promoção de ações afirmativas, além de um decreto que reconhece os direitos de propriedade das terras pelos descendentes de africanos, já dão indícios de que estamos falando da necessidade das cotas raciais para um público que foi quase anulado ao longo da história do Brasil.

    Diante deste cenário, onde se questiona a legalidade das cotas, objeto de julgamento na mais alta corte brasileira, como os diversos setores da sociedade podem colocar em prática iniciativas para mudar este quadro? Se o STF entender que as cotas raciais realmente ferem a Constituição, como buscar uma diminuição das diferenças entre brancos e negros? Algumas sugestões factíveis, como as que se seguem, se colocadas em prática, podem causar um enorme impacto social para a promoção de uma igualdade racial:

    • Nas escolas, há a necessidade do professor abordar temas relacionados à negritude, ir além do que é proposto nos livros didáticos. A escola deve tratar da educação para as relações étnico-raciais ao longo de todo o ano e incorporá-la em seu projeto pedagógico, evitando, assim, que o tema seja apresentado apenas em eventos, como no dia 13 de maio, ou no dia 20 de novembro.

    • A pré-escola deve disponibilizar para as crianças bonecas negras, decorar os murais com as diversas matizes presentes no ambiente escolar a fim de que se contemple a diversidade étnica existente em um espaço onde se constrói referências para a vida.

    • A TV precisa procurar as diversas entidades que agenciam atores negros, como a CIDAN, Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro, idealizado pela Atriz Zezé Motta e que oferece um catálogo de atores afrodescendentes preparados para entrar no mercado de trabalho. Ao fazer isso, a TV dará visibilidade a maioria da população brasileira e deixará de apresentar os estereótipos que ainda são recorrentes nos diversos programas televisivos.

    • As ações publicitárias devem inserir mais modelos negros em suas campanhas. A associação do fenótipo negro a determinadas marcas pode tornar-se um atrativo para o público consumidor que ainda não se vê  adquirindo aquele produto, justamente por não se ver em tais projetos de marketing.

    • O empresariado deve propor ações na área de recursos humanos que insira os jovens negros no mercado de trabalho.

    • O Judiciário poderia adotar regime de progressão continuada para os crimes mais leves e empregar os presidiários nas inúmeras tarefas existentes nos fóruns e tribunais. Também poderia oferecer vagas em cursinhos pré-vestibulares ou cursos de alfabetização como parte da remuneração desses potenciais trabalhadores.

    • Sabemos que há um crescimento do número de professores negros no magistério, mas que tal uma cota que possibilitasse o ingresso de uma população negra, maior, também, nos cursos de medicina, de jornalismo, publicidade, etc?

    Partindo para as considerações finais, não podemos nos esquecer de que estamos em um Brasil da diversidade e que o racismo existe, sim, por aqui. Fingir que vivemos em uma democracia racial é jogar para debaixo do tapete um problema que é de todos, independentemente da cor ou classe social. Por isso uma votação que decida pela legalidade das cotas raciais é urgente.

    Enquanto isto, em nossa atuação profissional, aderir ao silenciamento, negando a existência do racismo em nosso país, é tornar-se cúmplice de um processo de exclusão de uma comunidade que se apresenta invisível nos mais diversos setores. Promover iniciativas que busquem a diminuição da desigualdade social entre brancos e negros é tarefa minha e sua. Afirmar que vamos extinguir o racismo, talvez não seja possível, mas propor políticas de inclusão em nosso campo de atuação, isto sim, é possível.



    Sunday, August 21, 2011

    Relato de Viagem a África


    Por que África?

    Além do meu interesse pela cultura negra, fiz meu mestrado sobre o livro A Varanda do Frangipani, do autor moçambicano Mia Couto, abordando fenômenos da oralidade na literatura. Além disso, meu raciocínio era de que seria mais vantagem conhecer um país menos europeu e americanizado que o nosso e respirar outros ares.

    No meu plano inicial, o objetivo era conhecer a cidade de Cape Town, muito visitada por brasileiros. Curiosamente, nossos compatriotas vão a Cidade do Cabo para estudar inglês e saem em grupos pela cidade. Por isso faço duas críticas: a primeira que não se pode considerar a Cidade do cabo “The real África”, a segunda, mais que sabida, para se aprender um idioma é necessário uma verdadeira imersão na língua e, considerar que é possível se comunicar o tempo todo em inglês o tempo todo com um colega brasileiro, duvido muito.

    Voltando. Considerando que Joanesburgo está a cerca sete horas por terra de Maputo, capital de Moçambique, pensei: porque não conhecer a o lugar  tão poetizado por Mia Couto em sua literatura? Feito o plano, comprei minha passagem com quatro meses de antecedência para Cape Town, com escala na capital sulafricana e solicitei meu visto aqui mesmo, via correio por meio da Embaixada moçambicana em Brasília. Aos que pretendem conhecer o país, é possível tirar o visto na imigração mesmo.

    Ao desembarcar no aeroporto de   Joanesburgo, no dia 2 de janeiro, por volta das 8 da manhã, recebi o “welcome” de dois policiais à paisana, solicitando-me que o mostrasse o passaporte. Surpreso e relutante, hesitei em entregá-lo. Um deles tentou puxá-lo das minhas mãos, não entreguei, depois mostrou-me sua identificação e disse rispidamente: sou policial!,  em seguida tive meu passaporte “tomado”.

    Ele perguntou-me para onde iria e respondi que ia para Maputo. Solicitada a minha passagem disse que ainda não havia comprado, pois não sabia se iria de ônibus ou de avião.  Dadas as informações preliminares o policial me convidou a segui-lo, “dar uma passeada” pelo aeroporto. Passamos em uma sala, tiraram a cópia de duas páginas do meu passaporte, depois fomos em direção a saída do aeroporto.

    Os policiais só se comunicavam em Zulu, portanto não entendia nada, como resultado desta não compreensão, muita coisa passava-se pela minha cabeça, tensão total. Mostrei minha reserva do "hostel" e  não deram importância alguma. Perguntei se havia algum problema e disseram que não. Paramos numa  sala onde havia policiais uniformizados e pensei: só falta eles terem interpretado que eu os desacatei por não entregá-los o passaporte prontamente.  Pediram que eu me sentasse e aguardasse um momento. Um dos policiais atrás do balcão olhou-me fixamente e disse: gostei do seu relogio; um daqueles da 25 de Março comprado na “banquinha”.

    Enfim, seria deportado para o Brasil? Eles “plantariam” algum flagrante em mim?  Cerca de 20 minutos depois retornaram e convidaram-me a entrar em um carro Oficial. Perguntei para onde iríamos e me disseram que iam fazer um raio X em mim.

    Saímos do aeroporto e a cabeça a mil. Rodamos uns dois quilômetros e chegamos ao Hospital, já estava pensando que teria os meus órgãos “doados”. Orientaram-me a ficar somente com a parte de baixo e colocar uma bata branca. Em seguida deveria deitar no lugar onde se tira o Raio X. Tirou um, dois...Passados uns cinco longos minutos  a mocinha veio com o resultado: nada consta. Ufa!

    Assinei um documento confirmando que estava ciente do resultado e fomos para fora do hospital, aguardar o outro colega do policial que havia ficado. Passado o susto, comecei a conversar com um deles, falar da minha profissão, do Brasil, etc. Ele disse que muitos latinos vão para a África do Sul com drogas, por se tratar de uma rota comum entre os traficantes. Ao me deixar no aeroporto me orientaram que fosse para Moçambique o mais breve possível, pois não queriam me encontrar novamente por ali.

    Não segui a orientação dos policiais, fui tomar um “breakfast” na praça de alimentação do aeroporto e depois procurar pela passagem para Maputo. De avião, sairia 2.400 “rands”, algo em torno de 700 reais; tomei outro susto. Perguntei para vários transeuntes onde poderia comprar uma passagem de ônibus para Maputo e recebi informações desencontradas, até que achei um taxista que  se dispôs a levar-me, por 200 “rands”, até a “bus station”.

    O motorista aparentava ter seus 50 anos e chamava-se Jake. Bastante comunicativo e atencioso, acompanhou-me até a cabine onde vendia a passagem. O preço, 250,00 “rands”, mas o ônibus sairia somente às 22:00. A opção mais econômica era essa, comprei a passagem e já estava imaginando o que faria naquela rodoviária onde, de fato, percebi-me em África, pois estava um lugar similar ao terminal Rodoviário do Tietê, lotado, e apenas eu, branco, "fora do ninho". Foi minha primeira percepção do que é ser branco em outro contexto sócio-cultural.

    Depois de comprar a passagem perguntei ao Jake quanto ele me cobraria para levar-me para conhecer o Soweto, bairro onde Mandela viveu e palco de diversas manifestações anti-apartheid, distante uns 15 quilômetros dali. Jake disse que ia entrar em contato com o seu patrão para negociar a corrida e convidou-me para tomar um café, depois de passar na casa de uma parenta sua. Após o contato, informou-me que faria por 600 “rands” para rodar por duas ou três horas por Joanesburgo e  Soweto. Pedi um desconto e fechamos por 500 rands, algo em torno de 130 reais.

    Visitei a casa onde Mandela viveu e o memorial Hector Pieterson, levantado em homenagem ao garoto de 13 anos morto em um protesto nos anos setenta, além de outros lugares. Chamou-me a atenção a enorme concentração de crianças naquela região, que aproveitam e se aglomeram nas redondezas desses pontos turísticos.
           
    De volta à rodoviária, esperei o ônibus por mais quatro horas. Enquanto isso lia algum livro ou dava uma volta na rodoviária, evitando que cochilasse em uma das cidades que está entre as mais perigosas do mundo, apelidada carinhosamente de “Josy” ou “Joburg” pelos locais.

    Estava em um ambiente em que muitos olhares se dirigiam a mim com um certo estranhamento, principalmente das criancinhas nos colos de suas mães ou a brincar na área de embarque. Deduzo que muitos deles nunca viram uma pessoa branca na vida.

    Despachei a mochila e embarquei. O ônibus em si era executivo, mas bem rodado e mal conservado. Chamou-me a atenção a informalidade com que o “cobrador” tratava as pessoas.  Só havia eu de branco no ônibus, cheio. Olhava os demais passageiros e imaginava quem seria e quem não seria falante da língua portuguesa, para onde iriam, o que faziam... Dormi boa parte da viagem, passamos na imigração e por fim adentrei-me em território moçambicano.

    Cheguei em Maputo por volta das 6 da manhã e fui de taxi até o “hostel” onde havia reservado minha vaga, só há dois “hosteis” em Maputo, o “Fátimas’s place” e o “The Bass”.

    Descansei-me até por volta das 14:00 e saí para conhecer a cidade. Parei em uma choperia, Mimo’s, onde recomendaram-me o caril de camarão, comida muito comum na cidade e deliciosa. Pedi um chope para dar uma aliviada no calor e solicitei informações a um grupo de cinco amigos que estava sentado à mesa ao lado. Informaram-me sobre os lugares para sair à noite, como a “Coconut”, balada eletrônica, além de “points”. Sentei-me com eles e passamos o restante da tarde conversando sobre diferenças étnicas, sociais, culturais, relação Brasil/África, influência das TV brasileira em Moçambique, etc.

    Depois da choperia convidaram-me para “tomar a saideira” no Maputo Shopping, em outro Mimo’s. Fui de carona com os meninos que logo apelidaram-me  mulungo mutxangana, que em Changana significa “branco gente boa”. Depois de muito chope trocamos contatos e combinamos de nos encontrar em outro momento na minha estada de 10 dias em Maputo.

    Nesse interin presenciei um compatriota destratando outro na choperia em que estávamos. Aqui no Brasil soaria estranho, no entanto, lá não, seria como um branco destratasse outro na Alemanha, por exemplo, visto que a predominância nesse contexto é de negros....talvez algum cidadão usasse aquela frase, que não concordo por envolver outras leituras por trás: são racistas com eles mesmos....

    No outro dia conheci um colega Francês, Sébastien Perrier Brunet, no hostel e planejamos fazer algumas “tours” pela cidade e adjacências.

    Entre outros fatos curiosos relacionados ao idioma, uma situação inusitada foi quando o francês resolveu ir a agência da Emirates para adiar seu retorno a Durban, antes de voltar ao seu país. Num momento ele falava em inglês com a atendente e em outro eu o auxiliava com a língua portuguesa, em outro eu perguntava em português algo a ele que me olhava e dizia: ã?, pois não sabia nada em português, muito menos eu em  francês. Um dado curioso é que ele estava apenas há um mês pela África e já se virava relativamente bem com o seu inglês, apesar de não ter estudado a língua anteriormente.

    Numa das ocasiões em que saíamos pela cidade fomos abordados por policiais que solicitaram-nos o passaporte. Eu não estava em posse dele, mas o francês estava. Enquanto um dos policiais conversava com meu colega o outro falava comigo sobre o Brasil e sua vontade de conhecer o nosso país. Aquele intimidava meu colega e fui me interar do assunto que disse que eu não poderia andar sem o passaporte pela cidade, que a polícia era mal remunerada, etc. Propus então que fossem conosco até o “hostel” buscá-lo, mas optaram por não ir. Conversa vai, conversa vem, perguntaram-nos aonde íamos. Disse que íamos ao caixa eletrônico e um deles nos perguntou “afirmando”: estarão a passar por aqui depois, né”? , insinuando que lhe trouxesse uma propina. Eu disse, sim...

    Retiramos o dinheiro do caixa eletrônico e paramos para tomar um café depois voltamos pela mesma calçada e ao  passar por eles meio a desviar o olhar, pois não devíamos nada, um deles nos olhou e disse: Já estão a voltar.... eu disse: opa! estamos sim, e seguimos.

    Outro dia resolvemos conhecer a Suazilândia, país vizinho. Viajando na maionese, cogitei a idéia de encontrar população indígena na cidade, vestida com suas indumentárias coloridas  ou até o Rei Mswati III com suas 14 mulheres...

    País com baixíssima expectativa de vida, 32 anos apenas, Mbabane, sua capital, apresenta uma semelhança estética com a cidade de Maputo. Rodamos pelo centro e sondamos a possibilidade de visitar uma reserva próxima, mas o valor cobrado pelo taxista não era atraente. Tomamos um café num lugar estranho, pessoas a nos olhar, depois fomos para o caótico ponto de ônibus/vans.

    Conseguimos embarcar no mesmo carro que nos levou. Nele vem muita gente de Maputo para comprar aves, carnes, etc. e depois comercializar esses itens na cidade.
    Foi uma viagem tensa, pois a polícia pode apreender a mercadoria, para que isso não ocorra é necessário que se dê propina. Uma van bastante barulhenta pois se ouvia, além da música alta,  discussão em língua local, pedido de ajuda fazer uma vaquinha  para pagar a polícia, gozação deles um com o outro, etc.

    Na imigração ficamos sabendo que não poderíamos voltar para Moçambique, pois o visto é único. A opção seria pagar na hora o valor, algo em torno de R$150,00, ou voltar para a cidade de Mabane e esperar até segunda-feira, quando pagaríamos um valor menor, em torno de R$ 30,00. O problema é que só tínhamos cartão, mas eles não aceitavam. Por sorte, o condutor da lotação se ofereceu para pagar  a taxa do visto e receber depois, em Maputo. Chegando em Maputo acertamos com o rapaz e agradecemos sua gentileza.

    À noite em Maputo não se vê muita opção para sair, talvez esta minha impressão se deve ao fato de morar em São Paulo. A danceteria mais conhecida é a “Coconut”, lugar onde se ouve música eletrônica, um “point” da classe média moçambicana.

    No outro dia fomos para Nhambane, na praia do Tofo, a cerca de seis horas de Maputo, novamente de van, mais conhecido como “chapa”. Lugar lindíssimo que equivale, em termos de beleza,  às nossas praias no sul do Brasil.  

    Logo mais volto pra continuar....
            

    Monday, November 22, 2010

    Despoesia

    Um sorriso
    Um jeito de muleca
    Quem?
    PerguntÔ!
    GROSSO!

    Thursday, September 24, 2009

    SÃO PAULO, SAMPA

    Não há nada melhor que o centro de São Paulo, um caldeirão de diversidade, uma síntese do Brasil. Evidentemente que São Paulo é vista de modo particular por cada um de seus moradores, nesse sentido, escrevo sobre a São Paulo que eu gosto. Escrevendo, é inevitável não pensar na música de Caetano Veloso, "Sampa" e de como tal composição dá conta dessa paulicéia desvairada. É a força da música em poetizar os espaços.

    Resido em Barueri, 25 km do centro de São Paulo. No entanto, tenho preferência pela vida cosmopolita que acontece ali. Lembro-me que trabalhava como oficce boy, quando tinha de entregar algum documento, ou "fazer banco" na região central, dava várias caminhadas, meio que em círculos, pelas ruas 7 de Abril, Xavier de Toledo, Barão do Itapetininga, Viaduto do Chá, São Bento, etc. Andava à toa. Via as vitrines da 7 de Abril, da galeria do rock, parava para ver o homem pular no aro de facas (e nunca pulava), tomava sorvete no Mc, via as gatinhas, jogava fliperama, etc.

    Hoje, esse costume, de certo modo, ainda persiste, mas em outra tônica. Ainda ando à toa por aquela região, mas não tenho mais paciência para ver as rodas dos artistas de rua. O olhar agora é outro. A percepção é diferente. Mais elaborada? Isso é questionável, pois fase é fase. Por exemplo, sinto-me em estado de êxtase quando estou no Viaduto do Chá, ao lado, o encanto do imponente teatro municipal, embaixo, uma artéria que viabiliza o trânsito da zona sul à zona norte, emendada com o Vale do anhangabau. Talvez, para nós, a Casa Rosada dos argetinos, pois é cartão postal, é referência. Outra coisa, passar por alí e não comer churrasco grego ao lado do Teatro Mvnicipal, não tem graça.

    Sala São Paulo, Museu da Língua Portuguesa, Museu da Arte Sacra e a Pinacoteca, exibem uma arquitetura pomposa e convidativa para a exploração do seu interior. Lá dentro, comprova-se : Deus existe. Não se entra em um lugar desse sem sair mais aliviado da famosa tensão do dia-a-dia.

    Encantatória também é a região da Augusta. Quando moleque, reuníamos uma galera "aqui da quebrada" e íamos ver "as primas". A propósito, muitos colegas, quando ouvem o nome Augusta, a associam e a reduz à prostituição. A Augusta é muito mais que isto. A começar pelos cinemas, pelas lojinhas, que vendem raridades em CDs, DVDs, VHS, Vinis, etc.

    Là você encontra ambientes agradáveis como o famoso Frevo, o "frevinho", onde se come o tradicional e delicioso beiruth, a pizza bacana e barata de O Pedaço da Pizza, porções e Heineken no Athenas Café, salada no Vanilla Café. Pode-se comer Temaki no Yoi, tem também a comida árabe no Kebab Salonu. Como se vê, a Augusta é muito mais do que pensam. Sem falar nos ambientes que passam pelo Jazz, rock etc, daí ser uma das ruas mais movimentadas do centro de São Paulo às sextas feiras. Drag, emos, rockeiros, gays, prostitutas, artistas, mendigos, descolados, universitários, etc., concentrados numa que já não é mais aquela rua da paquera dos anos sessenta, onde rachas e desfile de belas garotas povoavam aquela região. Ela agora cresceu, se diversificou.

    Nessa região há a maior concentração de cinemas alternativos do Brasil. Na Augusta está o Espaço Unibanco e o CINESESC. A poucos metros dali você está no Cine HSBC Belas Artes, na Paulista está o Cine Bombril, na mesma avenida o belo Reserva Cultural. A propósito, a Paulista é a Paulista.

    Um dos meus lugares preferidos, fica mais abaixo, o Papo Pinga e Petisco. Esse ambiente transmite uma energia singular. Um antiquário onde se pode comprar o que está na decoração e uma música ambiente compõem o cenário desse espaço, perfeito para papear. Os pratos, baratos, variam de carne seca desfiada, carne louca, salgadinhos, vinho de garrafão e, claro, pinga. Ali, ao lado do Espaço dos Satyros e do Parlapatões, teatros que mantêm em seus cartazes peças de segunda a segunda.

    Quanto às casas noturnas, limito-me a falar das casas que privilegiam o samba rock. Se não der um pulo no Bexiga, não se conhece o Teatro Mars, que , na verdade, é mais um espaço voltado para shows de excelentes bandas de samba rock, o teatro fica só no nome. Às terças feiras tem samba rock e swing nostalgia no Hotel Cambridge, bem próximo a estação do Anhangabau, onde Djs da velha guarda dirigem o projeto Vinil é Cultura. Na Av. Rio Branco fica o Green Express, onde se dança muito ao som de muita nostalgia. Tem mais na Vila Madalena. Enfim, São Paulo é São Paulo.

    Como disse no início, essa é minha São Paulo, você certamente relataria uma outra São Paulo, ou não?


    abraços!

    Thursday, May 14, 2009

    Religião: Samba rock


             Outro dia estava comentando com um amigo sobre as válvulas de escape que procuramos no dia a dia. Nesta conversa, chegamos a algumas considerações de que elas podem ser uma aula de tango, uma aula de pintura, um curso de cinema, etc. Evidentemente que, acima de todas, penso eu, uma das essenciais, é poder parar e conversar com os amigos queridos, sempre quando há tempo.
                  
                Ainda nessa linha, também chegamos a conclusão de que certas coisas nos levam ao estado de transe. De maneira mais ilustrativa: diz-se que o ogã, em suas atribuições, no candomblé, é escolhido para estar lúcido durante o trabalho, no entanto, isso não o isenta de sair dessa para uma outra dimensão quando está tocando o atabaque, sentindo a vibração do ambiente e do movimento pelo qual seu corpo é ritimicamente levado.     
              
               Penso que o samba rock também dá essa possibilidade: ao dançar, o ritmo da música nos leva a um estado que não é um estado racional. Quando digo que não é racional, é porque, ao dançar, quem dita a pulsação do seu rítimo sanguíneo é a batida, o que prefiro chamar de swing da música. Então, eu recomendo, dance samba rock e saia dessa vida, pois o sedentarismo também é "pecado".
              
               Outro benefício que o samba rock possibilita é a formação de um o círculo de amizade que se constitui ao longo das noite dançantes, melhor que o termo "balada", não? Assim, não é difícil você encontrar aquela (e) parceira (o) que você dançou e pensou, "puxa, dança muito". Não é raro você encontrar aqueles amigos que sempre estão no que, eu diria, circuito do samba rock. O curioso é que hoje tem samba rock para tudo quanto é público.

                Se você for numa casa, como o Grazie a Dio, por exemplo, encontrará pessoas de uma classe social diferente da que você encontrará no Green Exspress. Na primeira, o pessoal vai mais para ouvir as bandas ao vivo e bater papo, pois, a meu ver, o próprio espaço é limitado para dançar. Fico com a última casa, na Av. Rio Branco, já que, lá, a galera, mais família, vai para dançar e, também, relembrar os velhos tempos da nostalgia ao som de Djs  em suas picapes conduzindo a comunidade com os melhores sons da musica negra.
              
                Temos também o Mars, bom lugar, um público próximo do que vai ao Grazie a Dio. Têm também, toda quinta, na Galeria Olido, no centro de sampa, excelentes bandas "de grátis."  Têm os deliciosos bailes nostalgia, na Casa de Portugal, ou no CASSASP.
               
               Tem o já mencionado Green Express, que possui uma fachada que, a princípio, pode não apresentar o ambiente que existe lá dentro, com pessoas sempre a fim de uma boa música nostálgica e figuras carimbadas que já fazem parte do patrimônio histórico da casa, como Selma Samba Rock e o carismático Michael Jackson, sempre bem vestido e com aquele sorriso de menino peralta.
              
                Em síntese, receitaria para você samba rock, porque, entre os benefícios, estão: fazer amizade, sair do stress, fazer um exercício físico, sair da rotina, ser "possuído" pela batida da música. Mas Ó, o ruim é que vicia, portanto, cuidado para não sair para dançar samba rock em vez de ver sua (eu) namorada (do) ou perder prova na faculdade para dançar samba rock. Só isso que considero um "ponto negativo" do samba rock: o vício, isso também é pecado.

    Thursday, May 07, 2009

    "Estou me lixando para a opinião pública. A opinião pública não acredita no que vocês escrevem. Vocês batem, batem, e nós nos reelegemos mesmo assim.”


    Frase do Deputado Sérgio Moraes (PTB-RS) e relator do processo contra o deputado federal Edmar Moreira, o do castelo.

    Nem vou comentar...

    Rindo-me

    Houve um tempo em que o trânsito indicava uma apatia, aquela que diz nosso querido Drummond "Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar. ... Eta vida besta, meu Deus". Hoje, essa dinâmica contempla a estética dum tempo virtual. Ao postar essa mensagem, o trânsito do registro escrito congela nesta página esta reflexão. No entanto, o tempo da leitura, este que você agora vivencia, comporta alguns minutos e traz outras referências, aquelas presentes na memória, em que esse transitotempo fica. É um outro regitro que faz de mim, outro, uno, e em trânsito. É através da memória que me pego rindo de uma determinada situação inusitada, daquele beijo tentador, daquela moça que ria e me fazia rir, e me pego à toa, como se fosse um bobo...
    Melquisedec Chaves 07.05.2009

    Wednesday, August 20, 2008

    Conto sem fim ou crônica sem terminar? Bom, nem isso está definido. Está em processo. Tenho umas idéias aqui pra continuar, mas voltarei em momento oportuno, pois tô sem tempo.

    Enquanto isso, pode continuar o raciocínio.




    Aflaudízio via poesia em tudo. Fazia questão de buscar o pão todas as manhãs, só para ler:
    “Nosso lema é servir bem para servir sempre”
    Pensava: Como pode tanta criatividade, tanta invenção poética!
    “servir bem para servir sempre”
    Isso para ele suscitava questões filosóficas de tamanha complexidade que ficava horas a pensar sobre o fenômeno tempo.

    Imaginava a servidão existente na idade média, pensava nas cortes em que o homem sofria a “coita d’amor ‘ pela mulher do patrão e se deleitava em fazer poesia em homenagem a amada.
    Pensava na frustração daquele servo ao ter a dama distanciada pela presença do seu senhor, a vontade de servi-la para sempre, o ódio pela impotência em não poder pegá-la de quatro e fazer dela uma puta desvairada e gemer metáforas e onomatopéias animalescas em seu ouvido.

    Via poesia nessa frase. Lembrava um tal Pero Vaz de Caminha de que sua irmã comentou outro dia “ Para tão longo amor tão curta a vida ”.
    Devaneava e imaginava-se na presença de Amanda.
    Amanda...ainda direi isso a Amanda...
    Ingênuo, censurava as besteiras que lhe vinham à cabeça...
    Será que ela vai entender?
    Pensava, achava-se meio amalucado
    Todos os seus colegas falando da experiência traumática que teve Ronaldinho, o fenômeno, e ele pensativo.
    Desinbesta, omi! Que cê tem?
    Nada não
    Pensava em Amanda, ora, cabra macho que nem ele falar de seus sentimentos?
    Nem pensar.
    Preferia ficar ensimesmado e soltar um rizinho amarelado para participar de alguma maneira da conversa com os amigos, o fazia por conveniência, afinal, a qualquer momento poderia ser pego pelo marido de Amanda.
    Perguntava a sua irmã mais velha o que ela via naquela frase
    Ué? Se eles lhe servirem bem, você voltará sempre lá com o intento de comprar mais pão!
    Como poderia ela, a mais letrada dos oito irmãos, não entender o que dizia aquela frase...
    Achava que essa sua tara por Amanda era a mesma que sua irmã tinha por um tal de Fernando alguma coisa.
    Não entendo mesmo, ela vive a comentar com minha prima que é apaixonada por Fernando....Pessoa, ela deve saber o que estou sentindo...



    ----??



    ___ QUE SERÁ QUE VAI ACONTECER? CASARÁ-SE ELE COM AMANDA? AGUARDE O PRÓXIMO DE......SERÁ QUE ELE TRARÁ MAIS DE SEU REPERTÓRIO SOBRE SOBRE A LITERATURA UNIVERSAL?